quinta-feira, 21 de março de 2024

Estados Unidos Anunciam que Israel Matou o nº 3 do Hamas

por Laura Ruiz Sancho
Estados Unidos afirmaram que o líder do Hamas, Marwan Issa, foi morto numa ofensiva israelita.
O Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, confirmou que forças israelenses mataram Marwan Issa, o vice-comandante da ala militar do Hamas em Gaza e um dos mentores dos ataques de 7 de outubro. O presidente dos Estados Unidos afirmou que Israel tem o direito de perseguir o Hamas, os autores do pior massacre do povo judeu desde o Holocausto, disse Sullivan. Da mesma forma, indicou que Biden indicou repetidamente que a continuação das operações militares deve estar ligada a um fim estratégico claro, razão pela qual ele precisava de uma estratégia coerente e sustentável para que isso acontecesse. No entanto, o conselheiro dos EUA alertou que um plano militar não pode ter sucesso sem um plano humanitário integrado e um plano político.
Nem o Hamas nem Israel comentaram oficialmente estes relatórios. Embora, em 11 de março, o Contra-Almirante israelense Daniel Hagari tenha afirmado que aviões militares israelenses haviam atacado Issa e outro alto funcionário do Hamas em um complexo subterrâneo no centro de Gaza.
Segundo o jornal britânico The Guardian, todos os sistemas de comunicação entre os líderes do Hamas ficaram em silêncio por mais de 72 horas após o ataque, como já aconteceu em diversas ocasiões em que altos líderes do Hamas foram mortos.
A mídia israelense informou que Issa foi morto em um ataque a um complexo de túneis sob o campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza. O Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Hervi Halevi, informou que uma operação das FDI (Forças de Defesa de Israel) em conjunto com o Shin Bet permitiu a eliminação de altos funcionários clandestinos. Da mesma forma, o Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, sustentou que o resto dos altos funcionários do Hamas estão escondidos na profunda rede de túneis do Hamas.
As declarações do conselheiro de Segurança Nacional dos EUA surgiram depois do presidente dos EUA, Joe Biden, ter conversado por telefone com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, pela primeira vez em mais de um mês. Nessa conversa discutiram a crise humanitária na Faixa de Gaza e uma possível operação israelense na cidade de Ráfah, que Washington considera um “erro”.
Especialistas disseram que o ataque a Issa sugere que Israel está obtendo informações de uma fonte importante da organização. "Israel precisaria saber onde e quando Issa estava escondido, e que ele permaneceria lá o tempo necessário  para que o gabinete aprovasse e [o exército israelense] lançasse a operação, necessitando, ainda confirmar que não havia prisioneiros israelenses detidos nas proximidades", disse Avi Melamed, ex-funcionário da inteligência israelense e analista regional.
Marwan Issa, que tinha 58 ou 59 anos no momento da sua morte, servia desde 2012 como substituto de Mohammed Deif, o líder das Brigadas Ezedin al-Kasem, o braço militar do Hamas. Issa serviu, ainda, no Conselho Militar do Hamas e no seu gabinete político em Gaza, supervisionado por Yahya Sinwar, o oficial de mais alta patente do grupo no enclave.
Fonte: tradução livre do Boletim LISA News

terça-feira, 5 de março de 2024

A Historia do Narcoterrorismo, da Guerra do Ópio aos Grupos Jihadistas

O narcoterrorismo representa um dos principais desafios para a segurança global e, desde o século XIX, impacta de diferentes formas e proporções em todos os países e regiões do mundo. Neste artigo, o professor do Curso de Experto en Análisis e Investigación de Narcoterrorismo de LISA (Learning Institute of Security Advisors), Raúl González, explica como o narcoterrorismo se desenvolve como uma estrategia híbrida oferecendo exemplos concretos desde as guerras do opio, passando pelas FARC e ETA na década dos sessenta, até como hoje os grupos Hezbolah, ISIS e Hamas tem fortes conexões com grupos delitivos narcotraficantes em toda América Latina.
Narcoterrorismo: uma ameaça permanente
O narcoterrorismo representa um dos principais desafios para a segurança global, pois tem a capacidade de impactar todos os países e regiões do mundo de diferentes formas e proporções, além das consequências que são geradas nos territórios em que essas ações ocorrem.
O narcoterrorismo é considerado uma estratégia de guerra híbrida em que, tanto a violência como a corrupção são utilizadas para atingir um ou mais objetivos. Estes objetivos incluem o controle territorial, o financiamento de atividades terroristas, a desestabilização e a subversão do Estado de direito.
A ligação entre os flagelos do tráfico ilícito de drogas e do terrorismo teve um impacto significativo na comunidade internacional. Esta relação baseia-se na simbiose entre organizações terroristas e grupos criminosos organizados envolvidos no tráfico de droga. As primeiras se beneficiam de enormes recursos provenientes do tráfico ilícito de drogas para financiar as suas atividades e ampliar a sua influência. No caso dos traficantes de droga, estes aproveitam-se da violência e da corrupção para manter o seu poder e expandir-se.
As implicações deste fenômeno são extremamente graves para a segurança internacional. Todas as suas ações têm o potencial de gerar instabilidade política, social e econômica. Pode também transcender os territórios diretamente afetados pela violência gerada, com consequências que vão além da própria ação criminosa.
O seu impacto é tão amplo que os seus efeitos podem mesmo acabar por afetar gravemente as relações diplomáticas entre os países. São capazes de gerar lacunas nas economias em diferentes escalas, causando ou agravando problemas sociais de vários tipos e tornando-se uma fonte inesgotável de violência e corrupção.
Adicionalmente, baseado na tríade do poder econômico dos lucros ilícitos do tráfico de drogas, do impacto das ações terroristas e do tráfico de armas que se combinam com outras ações criminosas organizadas, o narcoterrorismo também promove conflitos de diversas dimensões e é capaz de prolongá-los por longos períodos.
Embora esteja presente na agenda internacional há décadas, a multiplicidade de fatores e variáveis ​​envolvidas (políticas, sociais, culturais e econômicas) têm forte impacto na forma como governos, instituições, organizações internacionais e a sociedade em geral percebem e enfrentam esse problema. Por esta razão, não foi possível desenvolver uma definição de narcoterrorismo que seja globalmente aceita e para a qual se gere uma dinâmica de mudança a uma velocidade muito elevada, no que diz respeito ao seu reconhecimento e tratamento.

¿Qual é a origem do narcoterrorismo?
As origens do narcoterrorismo são incertas. No entanto, apesar das diferenças em relação às guerras do ópio, poderíamos considerá-las como as suas precursoras. Acima de tudo, com base na análise crítica das suas causas, consequências, impacto e elementos característicos.
Ressaltamos, em primeiro lugar, que ambos destacam a complexidade da abordagem deste tipo de conflito. São situações em que convergem a relação entre as drogas e o seu impacto nas dinâmicas políticas, sociais e econômicas. Portanto, acabam afetando gravemente a estabilidade interna dos países e as relações internacionais.
As Guerras do Ópio ocorreram durante o século XIX (entre 1839 e 1860) e tiveram como principais protagonistas a China e o Reino Unido. A introdução de enormes quantidades de ópio (mesmo contrabandeado) na China permitiu ao Reino Unido reduzir o déficit fiscal. Déficit que ocorreu devido à grande demanda por produtos chineses (chá, seda e porcelana), além de gerar recursos para financiar a guerra com a Índia. Por outro lado, o consumo excessivo de ópio pela população foi um fator desestabilizador interno que contribuiu para o enfraquecimento da dinastia chinesa.
Estas guerras tiveram implicações importantes para a geopolítica internacional, afetando em primeira instância as relações entre a Europa e a Ásia. Os efeitos da comercialização do ópio (lícita e ilícita) geraram posteriormente as bases para a implementação do sistema internacional de controle de drogas que é aplicado em todo o mundo. Por outro lado, o narcoterrorismo inclui uma ampla e variada gama de ações criminosas, que têm vindo a desenvolver-se e a evoluir de acordo com as mudanças impostas ao espectro internacional pela Primeira e Segunda Guerras Mundiais.
É assim que vários relatórios oficiais afirmam que, desde meados da década de 1950 do século XX, estratégias não convencionais foram utilizadas pela China e pela União Soviética contra os países ocidentais, que incorporaram o tráfico de drogas como forma de guerra química e fonte de financiamento para movimentos subversivos.

Expansão internacional do narcoterrorismo: das FARC na Colômbia ao ETA na Espanha
A partir da década de 1960, grupos guerrilheiros e subversivos na América Latina começaram a financiar as suas atividades através do narcoterrorismo. Assim, envolveram-se e estabeleceram relações com organizações criminosas dedicadas ao tráfico ilícito de drogas. Estas proporcionaram-lhes proteção em troca de recursos que lhes permitiram avançar nos seus objetivos.
Na década de 1970, as organizações de tráfico de drogas começaram a estabelecer redes internacionais de tráfico de drogas, principalmente de cocaína, para os Estados Unidos e a Europa. Dessa forma, na década de 1980, os grupos guerrilheiros se fortaleceram e se expandiram. Alguns dos exemplos mais notáveis ​​são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) na Colômbia e o Sendero Luminoso no Peru. Ambas as organizações utilizaram os rendimentos do tráfico de droga para financiar as suas atividades terroristas. Entre eles, destacam-se sequestros, assassinatos, extorsões e outros atos violentos para promover os seus objetivos políticos e econômicos.
Paralelamente, o narcoterrorismo espalhou-se para além da América Latina. Na Europa, os grupos mafiosos usaram a violência e estratégias terroristas para proteger as suas operações de tráfico de drogas. Com isso, buscaram extorquir empresas locais e pressionar os operadores do sistema judiciário.
Na Espanha, organizações como a Euskadi Ta Askatasuna (ETA) tinham a extorsão e outros meios ilegais como principais fontes de financiamento. Além disso, recebiam dinheiro dos narcotraficantes galegos para financiar as suas atividades em troca de proteção e apoio na introdução de grandes quantidades de drogas na zona norte do país ibérico.
Além disso, está amplamente documentado que o ETA assessorou Pablo Escobar, Capo do Cartel de Medellín, na execução de táticas terroristas contra a Colômbia. Tudo isto, no âmbito da luta contra a extradição de traficantes de droga para os Estados Unidos da América. Além disso, ele teve uma ligação comprovada durante muitos anos com a organização narcoterrorista colombiana FARC.

Conexões do narcotráfico com os grupos jihadistas
À medida que as organizações de tráfico de drogas e os grupos guerrilheiros se tornaram mais poderosos e sofisticados, a sua capacidade de influenciar a política e a economia dos seus países de origem também cresceu. Muitos políticos e funcionários públicos foram subornados ou ameaçados por estes grupos, e a corrupção espalhou-se por vários níveis do governo e da sociedade.
A partir de 1990, o narcoterrorismo expandiu-se através da ligação entre organizações terroristas islâmicas e grupos criminosos dedicados ao tráfico de drogas. O Talibã no Afeganistão, por exemplo, envolveu-se no tráfico de ópio para financiar as suas atividades terroristas. Desde os ataques de 11 de Setembro de 2001, estas ligações intensificaram-se. Com isto, outras organizações terroristas como a Al Qaeda (ligada ao Talibã) ou o Estado Islâmico (ISIS), entre outras, apareceram na cena pública.
Atualmente, vários grupos terroristas, incluindo o Hezbollah, o ISIS e o Hamas, têm fortes ligações com grupos criminosos de tráfico de drogas em toda a América Latina. Participam diretamente em atividades ilícitas de tráfico de droga, recebem financiamento para aconselhar traficantes de droga sobre táticas terroristas e trabalham em conjunto noutras atividades ilegais, como a mineração e a exploração de recursos naturais.
Para ilustrar esta última afirmação, vamos nos referir ao caso específico do Hamas. Alguns especialistas afirmam que ele tem ligações comprovadas com o Cartel de Sinaloa, no qual ambas as organizações se beneficiam. O Hamas teria assessorado o Cartel de Sinaloa na construção de túneis na fronteira com os Estados Unidos (de estrutura semelhante aos construídos pelo Hamas para superar as barreiras com Israel em Gaza).
Além disso, o Hamas oferece proteção aos carregamentos de metanfetaminas que atravessam ou têm como destino o Oriente Médio para este Cartel Mexicano, de quem recebe dinheiro do tráfico de drogas para se sustentar e também para financiar ataques terroristas e conflitos como o que ocorre atualmente. na faixa de Gaza.

Outros casos de narcoterrorismo em âmbito internacional
A máfia italiana ainda desempenha um papel no tráfico de drogas na Europa e tem sido acusada de ter ligações com organizações criminosas na América Latina. Mesmo assim, o uso da violência diminuiu (embora continue a ser um vetor de exercício de influência), sendo em grande parte substituído pela dissuasão através da corrupção e da participação na esfera política.
Na América Latina, organizações criminosas dedicadas ao tráfico ilícito de drogas de diversas origens, porte e abrangência; continuam a utilizar táticas terroristas que geram migrações forçadas, desaparecimentos e homicídios. Um exemplo foi o assassinato de um candidato presidencial no Equador ou o de um promotor antidrogas no Paraguai. Os homicídios são comparáveis ​​às ações violentas do passado que chamaram a atenção mundial, como os notórios casos de assassinatos de candidatos presidenciais, ministros e diretores de imprensa na Colômbia, bem como de magistrados na Itália.
As acusações das autoridades dos Estados Unidos da América à China e ao México, de serem os grandes responsáveis ​​pelos problemas que afetam a sua população em diversas cidades devido ao abuso do consumo de fentanil, acusando-os de usarem isso como estratégia para desestabilizar o sistema interno ordem e saúde naquele país; têm também grandes semelhanças com os acontecimentos que levaram às guerras do ópio e que envolveram a China, o Reino Unido e a Índia.
Estas são demonstrações confiáveis ​​das dimensões e do impacto que o narcoterrorismo tem na segurança global, bem como nas relações internacionais, na saúde pública e no comportamento dos mercados econômicos e financeiros. Também destaca o perigo implícito na ação silenciosa mas continuada deste fenômeno.
Fonte: tradução livre do Boletim LISA News
(Learning Institute of Security Advisors)

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Via Dolorosa

por Alexandre Garcia
Segunda-feira reabre o Congresso. Ao arrepio da Constituição, que manda reabrir a 2 de fevereiro. Mas quem se importa hoje com a Constituição? Não custa lembrar Thomas Sowell: A Constituição não pode nos proteger se não protegemos a Constituição. Enfim, é um risco que todos corremos, com nossos direitos. No dia 5 reabre o Congresso e o presidente da República vai ver que o duro janeiro vai ser o melhor dos meses deste 2024.
De cara, a Frente Parlamentar Evangélica espera, revoltada, por mais um atrito que o governo criou sem precisar. A despeito do que diz o art. 150 da Constituição, a Receita fez uma interpretação para cobrar imposto dos evangélicos.
Cerca de 300 milhões de reais. Mais uma frente a se unir à bancada do agro e das armas, contra decisões que só afastam o governo dos votos de que precisa no Congresso. Esse ambiente favorece a emenda negociada por Campos Neto, para consolidar a autonomia do Banco Central — o governo quer o Banco Central pendurado na fiscalização do Conselho Monetário.
Janeiro foi cheio de revezes para o governo, embora a propaganda oficial se esforce para mostrar o contrário. O mês começou com o Diário Oficial mostrando a lei do marco temporal, em que 374 derrubaram os vetos do presidente. Se o governo entrar no Supremo, o desgaste vai continuar, e não apenas com a imensa bancada do Agro.
O 8 de janeiro, que era para ser uma festa da Democracia Inabalável, teve as significativas ausências do presidente da Câmara e de 15 governadores.
Dois dias depois, por vontade de Lula, o Brasil aderiu à denúncia de genocídio contra Israel.
O Tribunal Internacional não aceitou e ainda sugeriu que o Hamas deva libertar os reféns. Depois, o New York Times mostrou que funcionários da Agência da ONU em Gaza participaram do massacre de israelenses. O governo do Brasil fica com cara de quem apoia terrorista.
No dia 18, em Pernambuco, Lula reavivou a Refinaria Abreu e Lima, cujo preço se multiplicou várias vezes. O presidente acusou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos de prejudicar a Petrobras, provocando mais um atrito.
Anunciou que o Brasil vai tocar a obra mesmo sem o aporte enganoso de Chavez. A isso somou-se à perplexidade do mercado quando o BNDEs anunciou 300 bilhões de reais para ajudar o setor industrial, soando como o velho protecionismo, e derrubou a Bolsa.
Além disso, com a promessa de facilitar licenças ambientais para a Vale, o governo tentou impor Guido Mantega como CEO da Vale, empresa privatizada há 27 anos. O mercado levou um susto e as ações despencaram. O governo não entende que o Previ, com 8,6% das ações da Vale, é dos funcionários do Banco do Brasil, e não do Tesouro.
E antes que janeiro terminasse, saíram os números do Tesouro, com um rombo de 230 bilhões de reais em 2023. A receita subiu 2,12% e os gastos 12,55%. A medida provisória que tenta revogar a decisão de 438 congressistas sobre a prorrogação da desoneração da folha é outro símbolo das fricções que o governo tem provocado.
O Congresso reabre e não vai aceitar a MP. Neste reinício ainda vai vir a reação de deputados e senadores ao veto a mais da metade dos ONZE BILHÕES de reais de emendas, no orçamento deste ano. Emendas já anunciadas pelos autores a seus prefeitos e suas bases.
Não deve ser uma reação branda, mas fisiológica e dura como uma pedra. A via dolorosa de Lula vem sendo pavimentada pelo próprio presidente, não com as pedras da oposição.
Alexandre Garcia é jornalista

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Rede Goebbels de Narrativas

por Percival Puggina
Lendo sobre Goebbels, lembrei-me da conversa pública entre Lula e Nicolás Maduro. Provavelmente, Hitler também recomendava a Goebbels que construísse uma boa narrativa e garantia a seus generais que ela seria melhor do que a narrativa dos que falavam mal dele — ingleses, norte-americanos e demais Aliados. Isto, porém, é mera especulação minha.
Através do trabalho de Goebbels, o Führer influenciou a estética e as expressões artísticas durante o Terceiro Reich, cobrando delas resultado político, ideológico e de afirmação da superioridade ariana. Joseph Goebbels sabia a importância dos meios culturais para a política e os usou para que a sociedade alemã refletisse a doutrina do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Impôs seu projeto ao cinema, ao teatro, à música, às artes plásticas, à arquitetura e à literatura. Com uma das mãos, criou a Casa de Arte Alemã e promoveu a exibição Grande Arte Alemã; com a outra, queimou milhares de obras ditas “degeneradas” porque não cumpriam o dever de espelhar e proclamar a superioridade biológica do mesmo povo que levavam para o abismo da guerra.
É curioso que, apesar da multiplicidade das competências de Goebbels em várias áreas de conhecimento, sua fama reverbere apenas o sujeito que falou sobre a eficácia da mentira contada mil vezes. Merecido epitáfio! De fato, a mentira foi eixo de sua sinistra existência, em cujos atos finais matou a mulher, os seis filhos e a si mesmo.
Enquanto ele se dedicava a tratorar culturalmente a Alemanha de seu tempo (1933 a 1945) para a colheita de Hitler, um grupo de marxistas judeus alemães criava e começava a operar a Escola de Frankfurt (1930). Nela, filósofos e cientistas sociais como Horkheimer, Adorno, Marcuse, Fromm, Benjamin, Pollock desenvolveram ideias anticapitalistas e avessas ao comunismo soviético. Seus trabalhos, nas décadas seguintes, foram usados para atacar pelo lado esquerdo as bases da tradição judaico-cristã. Nas bibliotecas universitárias, as obras desses autores estão, ainda hoje, na altura dos olhos de quem percorre suas prateleiras.
Naqueles mesmos anos trágicos da década de 30 do século passado, Antônio Gramsci escreveu os famosos “Cadernos do Cárcere” (1929-1939) na casa de reclusão de Turi onde cumpriu pena até dois dias antes de morrer. Suas anotações revolucionaram as estratégias comunistas, mostrando como a manipulação dos meios culturais permitiria estabelecer a hegemonia de “uma nova forma de consciência” e capturar a ordem política nas sociedades capitalistas. Há 90 anos, portanto, o pensamento revolucionário, totalitário e desumano, já conhecia a importância política da cultura.
Em 1933, a Escola de Frankfurt, fugindo da perseguição nazista, migrou para os Estados Unidos. Certamente por isso aquele país disponibiliza o maior arsenal bélico à guerra cultural contra si mesmo e contra o Ocidente. “Mas e o Brasil?”, perguntará o leitor. Como tenho repetido, a esquerda brasileira “copia, traduz e cola”. Copia do idioma inglês as receitas para desagregação da sociedade e demolição do Ocidente, traduz para o português pelo Google Translator e cola em seus estudos, cartilhas e bibliografias. Serve-se, pois, do mesmo arsenal norte-americano e com ele orienta a produção das narrativas feitas sob medida para a realidade brasileira. Por isso, na falta de mato para carpir, Lula pode dar “aula de narrativas” a Nicolás Maduro.
A insurreição cultural em curso tem gerado no Brasil uma decadência dos padrões de convívio social. Parte essencial de sua estratégia inclui exatamente o combate à beleza, à verdade e às virtudes. Ela exige a degradação do ser humano até sua desumanização, incluindo a bandidolatria, o aborto, a cristofobia, o desamor à pátria, o relativismo moral, a liberação das drogas, etc. Pessoas das quais não se poderia esperar um compromisso com a mistificação repetem narrativas fraudulentas por condicionamento “da nova consciência” imposto pela repetição.
O advento das redes sociais, caóticas por natureza, rompeu a hegemonia da comunicação que se estabelecera no Brasil. Isso criou problemas para a dominação cultural esquerdista que seguia os velhos ensinamentos da Escola de Frankfurt, dos Cadernos do Cárcere e das ações com que Goebbels implantou o conjunto ideológico do nazismo na cultura do povo alemão. Todo o empenho em “regulamentar as redes sociais” quer, mesmo, impor a elas um silenciador, minimizando seu impacto.
A oligarquia que retomou o poder no Brasil depende, fundamentalmente, da Rede Goebbels de narrativas. Ela faz o trabalho cotidiano de bate-bate na mesma tecla que ficaria enfadonho e insuficiente se assumido pelos oligarcas em suas manifestações. Na prática, eles constroem as versões e a Rede, com habilidade e boa técnica, repete em escala nacional não mil, mas milhões de vezes, há décadas, as ideias e narrativas esquerdistas, frankfurtianas e gramscianas, prendendo-nos a um passado tão perverso quanto corrupto.
Os males que disseminam não proporcionam, porém, fundamento estável ao êxito que, por enquanto, comemoram.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, e escritor.

domingo, 31 de dezembro de 2023

domingo, 24 de dezembro de 2023

Feliz Natal e um Novo Ano com Felicidades

 

Que neste dia em que comemoramos o nascimento daquele que veio para nos ensinar o bom convívio, consigamos colocar em prática os ensinamentos que Ele nos deixou.
Feliz Natal a todos, e que o Ano Novo de 2024, seja realmente Novo.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Ilus Fagundes Ourique Moreira — Centenário de um Líder

Na data de hoje, se vivo fosse, estaria sendo comemorado o centenário do Coronel de Cavalaria Ilus Fagundes Ourique Moreira, nascido em 24 de novembro de 1923 e falecido em 04 de maio de 2002.
Como Tenente-Coronel, ele Comandou o então 2º RRecMec (2º Regimento de Reconhecimento Mecanizado)  de 08 Jul 1969 a 16 Jan 1972, merecendo uma referência especial quanto ao período em que esteve à frente daquela Organização Militar. Comandante exemplar, não comandou, divertiu-se por três anos fazendo o que gostava.
Era idolatrado pelos Soldados. Entre Oficiais e Sargentos havia restrições porque o expediente só encerrava quando TODAS as viaturas utilizadas nos exercícios diários estivessem limpas e recolhidas às garagens.
Sobre sua mesa, no Gabinete de Comando, onde raramente era encontrado por preferir circular pela Unidade, havia uma grande foto do corpo trucidado do Tenente Alberto Mendes Júnior — Oficial da PMSP assassinado em 1970 —, para que ele jamais se esquecesse da missão que se impôs: caçar o desertor Carlos Lamarca e sua quadrilha.
Segundo um sobrinho dele, também Oficial de Cavalaria, o Coronel Ilus foi especialista em treinamentos de combate anti-guerrilha.
Certa vez, recebeu a missão de deter um sujeito acusado de terrorismo, para maiores esclarecimentos. Vestido de padre, para fazer a aproximação ao procurado, levava uma Bíblia na mão, com as páginas recortadas, de modo a caber a pistola .45 dentro. Ele se fazia de padre cego e o sobrinho o conduzia pelo braço como se fosse um sacristão, também com uma Colt sob a batina. Pegaram o sujeito sem maiores problemas.

a. A criação dos PELOPES
No começo de 1970, aproveitou a chegada, ao Regimento que comandava, de dois Aspirantes da AMAN, Ruy e Fleury, ambos Paraquedistas, um com o curso de Comandos, e o outro de Guerra na Selva; e lhes deu a missão de organizar, com seus pelotões, dois Pelotões de Operações Especiais (PelOpEs), um no Primeiro e o outro no Segundo Esquadrão.
Os PelOpEs treinavam na granja do Regimento, local hoje ocupado pelo 3ºBComEx (3º Batalhão de Comunicações do Exército), onde foi criado um pequeno local de instrução especial, com Pista de Reação composta por uma pista de cordas completa, em uma trilha com diversos tipos de obstáculos e armadilhas. Quando prontas as pistas, já em condições de iniciar as instruções, o Comandante perguntou se haviam testado tudo. Recebendo a resposta positiva, foi verificar e testar toda a pista, realizando a passagem por todos os obstáculos.

b. O treinamento diário da tropa
Era comum, antecedendo a Formatura Diária do Regimento, a saída de um ou dois Pelotões que tinham por missão instalar-se no terreno onde, mais tarde algum dos Esquadrões faria exercícios de atividades características de Cavalaria — Reconhecimento de Eixo, Área ou Zona; Segurança Interna, Ações Contraguerrilha, etc.
Um CCL M3A1 Stuart, em exercício. Imagem: Foto - coleção de Ricardo Fann
Os Comandantes de Pelotão evitavam ao máximo realizar exercícios próximos a banhados ou áreas alagadas pois, inopinadamente, o Comandante do Regimento ia verificar como estavam se desenvolvendo as atividades. E, se houvesse um banhado por perto, era certa a determinação para que um carro de combate — na época o Regimento dispunha dos Carros de Combate Leve M3A1, conhecidos como "Pererecas" — fosse encaminhado para o banhado até atolar. Daí em diante, o Comandante se divertia escalando Cabos e Soldados para desatolarem a viatura (na época, praticamente todos os militares da OM tinham conhecimentos básicos para manobrar, não só as "Pererecas", mas TODAS as viaturas operacionais do Regimento). Quando já ninguém tinha esperanças de que a viatura fosse desatolada sem o auxílio do "Brucutu" — apelido do enorme guincho existente na 2ª CiaMéMnt (2ª Companhia Média de Manutenção), então vizinha do Regimento —, o Comandante jogava fora o charuto que permanentemente fumava, entrava no barro e dirigia o M3A1 para fora do lamaçal. Contam que somente em umas duas ou três vezes foi necessário chamar o "Brucutu" para desatolar um carro de combate do Regimento.

c. A "charanga" do Regimento
Ao assumir o comando, constatou que no Regimento só havia um bumbo, um tarol e três clarins para estimular o Regimento nas formaturas. Determinou, então, que se buscassem militares da Unidade que tivessem algum conhecimento musical, para fazerem parte da banda, e obtiveram mais um Cabo e seis Soldados para reforçar a "fanfarra" da Unidade. Logo, apareceu um Cabo que tocava pistom e clarim, além de estudar música. Isso elevou o nível da pequena banda. Com vários instrumentos adquiridos, a fanfarra chegou ao total de 25 componentes, passando a participar da  Parada Diária, com o pessoal que entrava de serviço. O sucesso da fanfarra fez com que passasse a se apresentar em Colégios, Festas de Igreja, e até no Hospital Militar de Porto Alegre.

d. A recuperação "impossível" de um Carro de Combate acidentado 
As viaturas de dotação do Regimento eram, além das cerca de três dezenas de CCL M3A1 — os "tanques" com treze toneladas de peso —; os blindados de transporte de tropa (meia-lagartas e "Scout-Car"), as viaturas anfíbias e os jeeps comuns, mais os veículos administrativos.
O Comandante do Regimento se orgulhava de que, nas comemorações do Dia da Independência, todas as viaturas de sua Unidade participassem do desfile.
Os carros de combate do Regimento, eram de um modelo que fizera sucesso nos desertos no norte da África durante a II Guerra Mundial, por sua capacidade de manobra — maior velocidade e facilidade de mudança de direção —, que dificultava seu enquadramento pelos artilheiros alemães.
Tratava-se de um veículo que dava muito prazer a quem o dirigia — apesar do ruído infernal em seu interior. Na década de 1970, não havia problemas com fornecimento de combustível para os veículos e era muito comum a saída deles para fazer "testes de pista" em ambiente externo, mais como treinamento dos motoristas do que por necessidade de "verificação".
O Comandante incentivava que todos os militares da Unidade soubessem, pelo menos, manobrar todos os tipos de viaturas operacionais orgânicas.
Em meados do mês de agosto, começavam os treinos para o desfile de 7 de Setembro; e em um desfile de treinamento, um Sargento que não era oficialmente habilitado para dirigir os CCL provocou um acidente que danificou o sistema de tração da "perereca" que conduzia.
De volta ao quartel, o Sargento dirigiu-se ao Comandante para relatar o ocorrido e a resposta foi simples, concisa e precisa, ao estilo da Cavalaria: há um problema e devemos resolvê-lo em curto tempo; você é responsável pelo desfile dessa viatura no próximo 7 de setembro. A questão disciplinar, veremos no dia 8.
A mensagem foi muito bem compreendida e o Sargento iniciou a desmontagem da frente do carro de combate para verificar a extensão do dano. Trata-se de uma blindagem com espessura de cerca de duas polegadas de aço, presa por dezenas de parafusos.
Praticamente todo o efetivo da Oficina Regimental uniu-se no trabalho, para ajudar o colega que era muito estimado por todos. Aberta a frente do veículo, foi verificado o problema. As esteiras do CCL eram tracionadas por polias dianteiras e o conjunto mecânico de tração era protegido, sob a blindagem, por um bloco de antimônio.
E um dos braços desse bloco simplesmente havia trincado com a pancada sofrida. Obviamente, esse tipo de bloco não é de fácil reposição; e o antimônio é um metal de dificílima soldagem.
Felizmente, em contato com um grande empresário da cidade, este se dispôs a paralisar os trabalhos de sua empresa — Metalúrgica Gerdau — para realizar o trabalho usando o seu equipamento de usinagem com a devida assessoria técnica.
O reparo na peça ficou perfeito e, o mais importante, completamente gratuito. Novo mutirão de mão-de-obra voluntária de 24 horas diárias para recolocar o conjunto de tração e a blindagem em seu lugar.
Na manhã do dia 5 (ou 6) de setembro, o Sargento estacionou CCL recuperado em frente ao Pavilhão Administrativo do quartel — depois de realizar diversos testes no terreno — e foi apresentar-se ao Comandante.
Este o parabenizou pelo trabalho realizado e pela capacidade de gerar a enorme solidariedade entre seus companheiros, que possibilitou a realização daquele tarefa em tempo inacreditável. E o CCL desfilou com as demais viaturas no Desfile do Dia da Independência.

e. A estreia do uso da Boina Preta no Exército Brasileiro
Em 1971, o Comandante decidiu que o Regimento desfilaria usando boina preta no 7 de Setembro, seguindo a tradição mundial de diversas tropas blindadas. 
Usando recursos próprios da OM (granja, aluguel do campo de futebol, etc.) mandou medir a cabeça de todos da Unidade e confeccionar as novas coberturas de gala. Os Soldados amaram a ideia. 
Já próximo à data do Desfile da Independência, o Escalão Superior (Comando do III Exército) foi avisado da novidade e, naturalmente, vetou a iniciativa, pois boinas pretas não faziam parte dos uniformes regulamentares do EB.
O Cavalariano não se abalou e repetiu (em outro episódio, já dissera isso ao Quatro-Estrelas) que quem mandava no Regimento era ele. E o 2ºRRecMec desfilou com sua tropa orgulhosamente usando boina preta no 7 de setembro de 1971.
Diz a lenda que isso foi o último prego no caixão de sua promoção ao Generalato. Mas o editor guarda com muito carinho a foto com boina preta, sabedor de que aquele desfile da Unidade — que, depois, receberia o nome histórico de "Regimento Marechal José Pessoa"  no Dia da Independência de 1971, inaugurava o uso da peça que hoje orgulha as tropas blindadas brasileiras.

f. Treinamento em Itapuã
Ainda em 1971, o Regimento foi responsável por um treinamento antiterrorismo, sigiloso, para pessoal que não era da Unidade.
Os trabalhos foram executados na região em que atualmente existe a Reserva Ecológica de Itapuã, bem ao sul de Porto Alegre, já no município de Viamão. Foi escalada uma equipe para estabelecer a segurança da área de instrução, particularmente na trilha que dava acesso à Praia de Fora, local das instruções. Era uma tarefa sigilosa. Nada do que ocorreu foi relatado no quartel, mesmo sob a pressão dos Comandantes de Esquadrão.
Na área, durante o dia, os Soldados só ouviam os ruídos. Muitas explosões e tiros. Ao entardecer, os Instrutores e Instruendos retornavam à cidade e a equipe de segurança se acomodava em uma das barracas militares. Em outras, ficava o material: alvos diversos, armas diferentes das que eram usualmente usadas, e os cunhetes com explosivos e munições. O próprio Comandante autorizou que a equipe instalasse alvos e treinasse atirando com os mosquetões e pistolas. Pela manhã, chegava com pacotes de cigarros de presente para a "guarda".
Alguns fatos marcaram o treino: um foi o acidente com uma espoleta, que feriu um dos Instruendos. Ele foi levado ao Pronto Socorro. O problema de explicar o ocorrido, sem revelar a operação de instrução nem a identidade do ferido, foi contornado pela explicação de que se tratava de um mendigo que circulava no acampamento militar em busca de sobras de ração militar, e havia se aproximado de um artefato que explodira. O oficial que havia levado o ferido ao hospital percebeu o olhar de espanto do médico atendente ao ver um anel de graduação do dedo do "mendigo" ferido. O médico pode ter se espantado, mas não ousou questionar o relato.
Outro incidente foi um temporal noturno cuja ventania ameaçava carregar as barracas de lona. Foi uma trabalheira enorme desmontar as barracas e transportar o material mais sujeito a dano pela umidade, para um dos caminhões que permaneciam no local, para suprir alguma necessidade de transporte de emergência. Dormir na carroceria do caminhão, sobre a carga, não foi uma tarefa fácil.
Também ficou na memória um pequeno passeio pela região, acompanhando o Comandante. Em certo momento, uma perdiz alçou seu voo barulhento, e o Tenente-Coronel Ilus, instintivamente, sacou sua pistola e abateu a ave. Completou dizendo para o Soldado Leite, um dos que o acompanhavam: "Vá buscar e não desperdice! Não é todo dia que se pode comer perdiz abatida com 45.".
Ninguém saberia dizer se foi boa pontaria ou sorte do atirador.

g. O atraso do General e a chuva
O General Comandante do então III Exército — hoje Comando Militar do Sul — agendou uma visita ao 2ºRRecMec. Selecionado o efetivo de um Esquadrão para fazer a Guarda de Honra para recepcionar a autoridade, passam alguns dias de treinamento para que não houvesse nenhum contratempo.
Na data aprazada, 07:30 horas, a Guarda de Honra forma ao longo da Av Orleans para receber o Comandante das tropas do Exército de toda a região Sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul —, que deveria chegar às 08:00 horas.
Por seu porte físico, este redator foi escalado para fazer parte da Guarda da Bandeira, grupo destacado que guarnece o deslocamento de um Oficial conduzindo o Pavilhão Nacional nos desfiles.
Por volta das 08:00 horas, cai uma chuvarada e nada do General. Este chega cerca de meia hora depois. Desce da viatura oficial e empertiga-se para receber as honras militares devidas. Toque de clarim, continência coletiva, e o Comandante do Regimento faz a apresentação regulamentar da tropa: "Tenente-Coronel Ilus, apresento-vos a tropa do 2ºRRecMec em forma, pronta". Até aí, tudo bem. E continuaria bem, se o Ten Cel Ilus não tivesse acrescido um adendo à sua apresentação: 
— "se Vossa Excelência tivesse chegado no horário previsto, ou mandasse avisar que iria se atrasar, minha tropa não tomaria um banho desnecessariamente!"
Isto foi dito em alto e bom som — o pessoal da Guarda da Bandeira, em frente a qual acontecia aquilo, ficou estupefato. O General escancarou os olhos, não acreditando no que acabara de ouvir, e só conseguiu balbuciar um tímido pedido de desculpas. E a revista à tropa prosseguiu.

h. As apresentações do Cascavel e do Urutu
O Carro de Combate Sobre Rodas, precursor do EE-9-Cascavel estava, ainda, em sua fase de construção e um protótipo, com canhão 37mm, além de um exemplar do futuro Carro de Transporte de Tropa (Urutu) chegaram ao Regimento, trazido por um Coronel e equipe da Engesa (empresa fabricante). Tratava-se do irmão do Comandante do Regimento, Cel Argos Fagundes Ourique Moreira, Engenheiro Militar, depois General  cujo nome hoje é ostentado como denominação histórica pelo 8º Batalhão Logístico, de Porto Alegre e pelo Centro Tecnológico do Exército, no Rio de Janeiro, do qual foi o primeiro Chefe.
O Ten-Cel Ilus, acompanhou a visita e as demonstrações da nova viatura. Feitas as exibições previstas, no pátio de formaturas da Unidade, o Coronel convidou seu irmão para que os protótipos mostrassem seu desempenho na "pista de provas" da OM — localizada onde hoje se situa o “Parque Residencial Dr Ernesto Di Primio Beck”. Terreno limitado, grosso modo, pelas Avenidas da Serraria, Araranguá e Orleans — onde havia diversos tipos de obstáculos, que era usado na formação dos motoristas do Regimento. Posteriormente, as viaturas experimentais foram levadas até a área do Pontal das Desertas, onde hoje existe a Reserva Florestal de Itapuã, como parte de sua apresentação.
Os protótipos das novas viaturas blindadas não tiveram um desempenho considerado bom pelo Ten-Cel Ilus, que troçava o irmão mais antigo, afirmando que sempre confiaria mais nas "Pererecas" do que naquele "trambolho" sobre rodas.

i. A "fuga" dos terroristas presos
As notícias sobre os crimes cometidos por terroristas membros das diversas quadrilhas que pretendiam implantar uma ditadura comunista no Brasil eram comuns. A capital gaúcha não era tão afetada quanto os grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, mas houve casos de assaltos a bancos, restaurantes de luxo, tentativa de sequestro do cônsul norte-americano e outros atos aproveitando exatamente o fato de Porto Alegre ser uma das cidades mais discretas no conjunto das capitais. Isto não era tranquilizador. Pelo contrário. Vivia-se a expectativa de que a onda de atentados fosse se afastando do centro do país e migrasse para locais mais calmos. E a tensão dessa expectativa refletia-se na instrução dos militares em geral, até mesmo dos recrutas.
O treinamento para o combate convencional era intenso, mas sempre eram inseridos ensinamentos colhidos sobre guerra irregular, de guerrilhas. As lições aprendidas na guerra do Vietnã, sobre armadilhas, ações de sabotagens e emboscadas da guerrilha eram rapidamente difundidas nos quarteis.
Ficou na memória de muitos a recomendação que um Tenente costumava fazer em suas recomendações ao pessoal da guarda, quando ele estava escalado de serviço: "se algum invasor entrar aqui e conseguir fugir, é bom que os sobreviventes da guarda fujam junto, porque os que eu encontrar, eu mato!"
Pois nesse ambiente pesado, um pequeno grupo de Aspirantes-a-Oficial Temporário se apresentou na Unidade para o Estágio prático. No mesmo dia, um deles foi "escalado" como Auxiliar do Oficial de Dia. 
As instruções do serviço começam e ele assiste o Oficial-de-Dia realizar a inspeção na cela de um dos prisioneiros que cumpria pena no quartel, não sem antes ouvir uma preleção sobre a periculosidade dos encarcerados, condenados por terrorismo. O Tenente efetua a revista pessoal no preso e em seus pertences.
E seguem para a outra cela, onde há dois presos. Eles se posicionam com as mãos na parede na posição para serem inspecionados e o Tenente manda que o Aspirante execute o procedimento que assistiu no xadrez anterior.
O inexperiente jovem começa a verificação em um dos reclusos, mas é rapidamente subjugado pelos cativos, que lhe tomam a pistola que portava e o ameaçam com ela. Os bandidos exigem que lhes entreguem um automóvel para a fuga, ameaçando matar o jovem Aspirante na frente de todos. A gritaria e a balbúrdia se instalam. A guarda não reage para não instigar a iminente execução do jovem aprisionado, que ainda tenta ser valente e grita para que não atendam os bandidos.
Toma uma pancada na cabeça com a pistola e a valentia acaba. Um sedã VW é trazido e os três embarcam. O condenado ao volante arranca rapidamente e toma o rumo da "pista de provas", área de instrução em frente ao quartel, onde "desovam" seu prisioneiro, que volta apavorado para o quartel. No Corpo da Guarda, oficiais e sargentos aguardavam e o encaminharam ao Comandante, para que explicasse como havia facilitado a fuga dos dois criminosos mais perigosos da época. Aquele terror todo durou o resto da manhã, até que revelaram ao grupo de Aspirantes que tudo não havia passado de um "trote" aplicado ao grupo.
Os dois "fugitivos" eram os Tenentes Rui e Fleury. Os outros presos, realmente condenados, já não representavam risco de fuga por já terem reconhecido seu arrependimento pelos erros cometidos e estarem em busca de diminuição de suas penas pelo bom comportamento.
Cabe destacar que, fosse em uma situação real, os presos provavelmente teriam sido fuzilados ainda no Corpo da Guarda, mesmo com o risco do Aspirante refém sofrer algum efeito colateral.

Após deixar o Comando da Unidade, o Coronel Ilus permaneceu em Porto Alegre, indo servir no QG do III Exército. Gostava de visitar o "seu" Regimento. Ia lá almoçar e participar das marchas a pé. As realizava, armado e equipado, deslocando-se à frente da tropa, com o capacete de aço debaixo do braço.
Outros fatos poderiam ser relatados, todavia devem permanecer somente na memória dos envolvidos. Nenhum deles que desmereça a memória do Cel Ilus.
Poucas vezes voltei a encontrar meu Comandante e amigo, uma delas, em 1974, no QG do III Exército, quando fui me aconselhar a respeito da promoção à graduação de Cabo, frustrada por uma decisão questionável do então Comandante da Unidade — dele ouvi uma sábia lição: o Exército, com seus Regulamentos, se é uma Instituição que beira a perfeição, mas é composto por pessoas e estas são sujeitas a falhas. O último contato que tivemos foi no final da década de 1980 quando, já Sargento, fui visitá-lo no escritório da Engesa, em que ele, na Reserva, trabalhava; em um prédio na esquina da Av. Borges de Medeiros com a Rua dos Andradas no centro de Porto Alegre.

Um dia (04 Maio 2002), se foi esse que foi tido como profissional exemplar. Nas palavras de seu sobrinho: em solitária e pacífica morte súbita, na abençoada morte rápida, tomando banho. Morreu, fazendo da morte uma surpresa. Coisa bem típica de Cavalaria, pegando todo mundo "pelo flanco".

Alguns dias antes do seu falecimento, telefonara para o sobrinho, também Oficial de Cavalaria. Já idoso e viúvo, disse que tinha algumas armas em casa e gostava de treinar atirando com arma de pressão, dentro da própria residência, em alvos que montava no corredor do imóvel.
Um grande exemplo de militar que soube guardar e seguir as tradições do Marechal Osório.

Antônio João Ribeiro — 200 anos

por José Antônio Lemos dos Santos
Não se trata de exaltar as guerras em episódios ou personagens especiais, mas de celebrar um herói. Heróis existem em cada lado de qualquer contenda ou disputa, assim como covardes ou traidores, a depender do lado por onde são vistos. Herói é aquele que promove ou defende a todo custo, inclusive pessoais, os valores primordiais de seu povo em todas as áreas da ação humana. Em suma, existem heróis nos esportes, na cultura popular, na saúde, na arquitetura, na política, e até nas guerras, embora estas não devessem acontecer, mas aconteçam. Covardes ou traidores são o contrário dos heróis.
Quero falar sobre Antonio João Ribeiro, hoje quase desconhecido, mas um herói brasileiro que defendeu seu país a preço da própria vida em um dos episódios mais dramáticos da Guerra da Tríplice Aliança. Nascido em Poconé (MT) em 24 de novembro de 1823, morreu em Mato Grosso do Sul, na região onde hoje é o município de Antonio João, que o homenageia com seu nome. Neste ano de 2023 são completos exatos 200 anos de seu nascimento e este é o principal motivo deste artigo.
Seu drama ocorreu quando comandava a Colônia Militar de Dourados com uma guarnição de 14 soldados, mais cinco colonos — quatro homens e uma mulher — tendo que enfrentar um cerco de 365 adversários mais equipados. Rejeitou com altivez o ultimato do inimigo para render-se, não fugindo ao embate desigual. Antes do embate enviou mensageiro ao comando superior com sua decisão de defender aquela posição brasileira, ainda que a preço da própria vida. Não se escondeu em gabinetes e foi para a linha de frente onde morreram ele, dois soldados e mais dois colonos. Os demais foram dominados.
A mensagem enviada foi interceptada pelos inimigos. Tão eloquente era o seu texto que mesmo próximo do enfrentamento em luta sangrenta, ficou gravada mesmo na memória dos adversários que a leram, saltando de um texto em um papel dado como extraviado para a história das grandes epopeias brasileiras. Os bravos reconhecem seus iguais e se respeitam mesmo estando em lados opostos.
E assim foi.
Em 1980 o Exército Brasileiro consagrou o Tenente Antônio João Ribeiro como um de seus Patronos e construiu na Praia Vermelha, onde se encontram dois dos mais importantes centros de formação militar do Brasil — a Escola de Comando e Estado Maior do Exército e o Instituto Militar de Engenharia — um monumento em homenagem aos combatentes da Guerra do Paraguai tendo em posição de destaque a figura do ilustre mato-grossense e sul-matogrossense, o poconeano Tenente Antonio João Ribeiro representado no momento em que seu corpo se curva para trás alvejado de morte.
A mensagem enviada a seus superiores e interceptada pelos adversários, era pequena no tamanho e grande no significado. Segundo o site do Exército Brasileiro ela extravasava o inarredável sentimento do dever militar, expresso nas poucas palavras ali colocadas pelo bravo tenente: Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus companheiros servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha Pátria”. Vai, de fato, para além do dever militar firmando-se na linguagem cívica brasileira como expressão simbólica da afeição extrema da cidadania pelo seu berço pátrio diante de quaisquer tipos de ameaças que sobre ele paire.
* O autor é arquiteto e urbanista, e professor aposentado.

domingo, 19 de novembro de 2023

Dia da Bandeira Nacional Brasileira

Foto de Ronaldo Bernardi / Jornal Zero Hora

Apesar de todos os desgostos provocados por alguns que te tocam, és uma das formas de representação de nossa sofrida Nação.
Tuas cores alegres representam, principalmente, a esperança de que este povo, um dia, encontre o rumo certo.
E o carinho que te é dedicado pelas crianças prenuncia que um dia este país terá pessoas responsáveis em seu comando, voltando a ser respeitado e ocupando o lugar que lhe compete no concerto internacional.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Ponto Sem Retorno ou Pontes Queimadas

Agitaram-se as nações, vacilaram os reinos; apenas ressoou sua voz, tremeu a terra. Está conosco o Senhor dos Exércitos, nosso protetor é o Deus de Jacó.
(Salmo 45: 7-8)

por Joanisval Gonçalves
Nesta noite de domingo, passadas cerca de 48 horas dos ataques do Hamas a Israel, e após muito ver, refletir e orar, decidi trazer para Frumentarius minhas primeiras impressões disso tudo. Serão breves e objetivas. Vamos a elas.
Se houvesse um único termo para definir toda essa terrível crise é “sem precedentes”. Sim, Israel sofreu um ataque sem precedentes em sua história de 75 anos de conflitos. Além dos já “costumeiros” ataques com foguetes (contra os quais o Domo de Ferro garantia proteção), e diferentemente de tudo que acontecera antes, o Hamas atacou por terra: os “combatentes” da organização (terroristas sim, sem qualquer sombra de dúvida) avançaram contra populações civis dentro do território israelense. Massacraram homens, mulheres, crianças e idosos indistintamente, centenas de pessoas trucidadas em alguns poucos minutos (nunca o Hamas havia causado tantas baixas à população Israel). De fato, o que perpetraram sem qualquer pudor contra os civis israelenses me remonta ao que os nazistas fizeram com populações que pretendiam exterminar há mais de oito décadas — a maioria das vítimas, judeus.
Também sem precedentes foram as dezenas de pessoas tomadas como reféns pelo Hamas. No conflito com os palestinos, já houve cidadãos israelenses cativos, mas nunca nesse número tão significativo. E, na era das redes sociais e dos smartphones, o mundo já assistiu chocado a imagens de famílias executadas em suas casas enquanto comiam, de moças sendo forçadas a entrar em caminhonetes, à idosa ao lado de seu algoz com um fuzil no colo e fazendo um “v” com a mão (o que evidencia algum problema de senilidade da pobre senhora, a qual autoridades norte-americanas já teriam dito ser sobrevivente do Holocausto), ou ao vídeo aterrador de crianças pequenas dentro de gaiolas/jaulas sob a risada debochada dos facínoras que as capturaram. Esses registros de brutalidades contra civis aumentam a cada hora, e se mostram cada vez mais aterradores. Nada, absolutamente nada, justifica semelhantes ações, e aqueles que as cometeram fizeram com que sua causa perdesse qualquer legitimidade.
Os ataques diretos a guarnições israelenses, com a execução fria de soldados e tomadas de oficiais (alguns de alta patente) como reféns também surpreenderam. Até ontem, quando um soldado israelense era capturado pelos palestinos, todos os protocolos de segurança do Estado de Israel eram alterados, e o país entrava em alerta máximo. Nesse sábado, repito, foram dezenas de soldados capturados — dificilmente serão tratados como “prisioneiros de guerra”. Some-se a isso cenas de blindados israelenses sendo destruídos por mísseis (não me pareceram foguetes, mas não sou especialista) e de tripulações sendo arrancadas de seus carros de combate e trucidadas, com seus corpos jogados ao chão e vilipendiados. E tudo isso sendo gravado e transmitido em tempo real para o mundo.
Sim, o ataque do Hamas a Israel neste sábado, 7 de outubro de 2023, exatos 50 anos após o início da ofensiva que desencadeou a Guerra do Yom Kippur, foi algo sem precedentes. E a organização demonstrou capacidade operacional, planejamento, coordenação e controle também sem precedentes. Evidenciou um poder de fogo quase que inimaginável. E conseguiu causar danos a Israel e à sua população de intensidade e profundidade como nunca acontecera antes.
Sem precedentes também será a resposta de Israel. O país foi “jogado nas cordas”, e ainda se recupera para reagir. Mas reagirá. O Leão mostrará sua força, e atacará como nunca se viu. Os israelenses, unidos, não medirão esforços para vingar suas vítimas e aniquilar o cruel inimigo. Infelizmente, como aconteceu com a população do sul de Israel, milhares de palestinos inocentes em Gaza também sofrerão as consequências dos contra-ataques israelenses. Não me surpreenderia que se fizesse ali o que Roma vez com Cartago ao final da 3ª Guerra Púnica. Vae victis!
Israel não vai descansar até vingar seus mortos, feridos e sequestrados, e acabar com a existência do Hamas. Não lhe resta outra opção. Não à toa, Tel Aviv declarou estado de guerra. Se não reagir à altura, quem deixará de existir será a nação judaica.
Ao desencadear a operação desse sábado, o Hamas selou seu destino. Não deixou alternativa ao “inimigo”, pois o atacou naquilo que tinha de mais precioso. Também reiterou o que sempre pregara como seu maior objetivo: a extinção de Israel e da nação judaica — em outras palavras, o genocídio do povo judeu (posicionamento bem distinto do que prega a Autoridade Nacional Palestina, a qual governa a Cisjordânia e defende a criação de um Estado palestino livre e soberano).
O Hamas queimou as pontes, como se diz no jargão dos que estudam polemologia. As ações desencadeadas ontem levaram a um ponto sem volta (point of no return). E se isso se aplica para o Hamas, também cabe para a resposta que Israel terá que dar contra os terroristas e contra a Faixa de Gaza e os dois milhões de palestinos que ali vivem em condições dificílimas. Qualquer reação israelense, repito, que não seja dura, firme e efetiva, implicará em demonstração de fraqueza e sinalizará a possibilidade de colapso iminente do Estado de Israel perante os antagonistas que o cercam.
Talvez escreva nos próximos dias sobre o que vislumbro da reação israelense. A possibilidade dessa resposta envolver alvos além do Hamas não deve ser negligenciada, sobretudo se outros atores, não-estatais (como o Hesbollah) ou estatais (certos países do Oriente Médio, por exemplo), estiverem envolvidos no planejamento e na execução dos ataques iniciados ontem ou vierem a apoiar os palestinos. Nesse caso, o risco de o conflito escalar é alto, inclusive com o recurso de Tel Aviv a seu armamento não-convencional — aí se terá também um conflito verdadeiramente sem precedentes.
O mundo mudou muito (infelizmente para pior) desde sábado, 7 de outubro de 2023. Quero realmente estar enganado, mas as pontes parecem já ter sido queimadas entre as partes diretamente envolvidas no conflito. Talvez ainda não se tenha chegado ao ponto sem volta no que diz respeito à escalada da guerra, mas acredito que se está muito próximo dele.
Ontem à noite, conversando com uma amiga judia muito querida, ela me disse que há certas derrotas que têm gosto de vitória, mas na guerra até o vitorioso sai derrotado. Impossível discordar dessa afirmação. Espero ter errado em minhas reflexões, mas nesta guerra que começou ontem, a única possibilidade de vitória que percebo para cada um dos oponentes, exatamente porque as pontes foram queimadas nos primeiros momentos por um deles, é a aniquilação total do outro. E, assim, todos sairão derrotados.
Resta-nos, ao término deste segundo dia de conflito, orar por todos os que estão sofrendo com ele, pelos mortos e feridos de ambos os lados, por aquelas dezenas de pessoas que estão no cativeiro dos terroristas, e pelas famílias dos envolvidos nesse confronto. E resta-nos orar para que o Senhor dos Exércitos não permita que essa guerra escale e que a paz seja restaurada na região. Só nos resta, neste fim de dia, orar para que os que sofrem sejam confortados.

PS: As reflexões aqui são personalíssimas e fruto de uma tristeza imensa em testemunhar essa tragédia, da qual todos sairão derrotados — não por acaso vivemos em um mundo de provas e expiações. Acredito que nos próximos dias teremos uma chuva de “especialistas” convidados a falar nos meios de comunicação e nas redes sociais sobre o conflito entre Israel e o Hamas. São os mesmos que sabiam tudo sobre Covid, depois passaram à condição de doutores em vacinas, em seguida profundos conhecedores de Rússia e catedráticos aptos a discorrer sobre a Guerra na Ucrânia, para posteriormente analisar com profundidade (de pires) o problema da fome crônica no Brasil (com os 700 milhões de brasileiros que disseram vagar pelo País), e, mais recentemente, mostraram-se conhecedores de terrorismo, crimes contra a humanidade e Tribunal Penal Internacional. Assim, recomendo a meus 8 (oito) leitores (talvez esse número tenha diminuído com a pandemia) moderação aos buscarem opiniões de especialistas — como diria Ésquilo, “na guerra, a primeira vítima é a verdade”. E, mesmo que não me tenham perguntado, indico as análises sérias, embasadas e confiáveis de Alessandro Visacro e de Leo Mattos (ainda não tive como fazê-lo, mas vou ler — e ouvir —, nos próximos dias, o que eles têm a dizer sobre essa crise). Recomendo muito os dois professores.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Viva o Rio Grande do Sul, Terra de Bravos!

Apesar dos pesares, dos problemas, dos bostas que surgem pensando enganar o povo com discursos calhordas imaginando enganar a sociedade.
Enfim,apesar da completa escassez de Homens capazes para conduzir o Rio Grande do Sul e seu povo em direção ao futuro, ... ... 
Parabéns meu Rio Grande do Sul!!!!


Como aurora precursora
Do farol da divindade

Foi o vinte de setembro

O precursor da liberdade

Refrão que acompanha cada estrofe:
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra

Sirvam nossas façanhas

De modelo a toda terra

De modelo a toda terra

Sirvam nossas façanhas

De modelo a toda terra


Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo

***

domingo, 3 de setembro de 2023

Quanto Tempo até o "Gado" Voltar às Ruas?

A avaliação aponta que a estratégia do medo funciona por um tempo e na medida em que o governo Lula não consegue apagar a lembrança das ações da gestão Bolsonaro e com a piora do quadro econômico é mais do que natural que os patriotas voltem para as ruas — podendo trazer de arrasto aqueles que, iludidos pelas promessas do Nine Fingers, podem deixar Lula e sua quadrilha em apuros.
Lula nunca foi o candidato do sistema, mas desencarcerá-lo, descondena-lo e colocá-lo na presidência foi a única alternativa para eliminar uma gestão que a despeito de ter passado os quatro anos debaixo do mau tempo, contando com a má vontades da mídia (desejosa das verbas que perdeu), um ativismo do Judiciário sem precedentes, um Congresso que não aceitou perder o acesso à máquina e, para completar, primeiro uma pandemia midiática e depois a guerra na Ucrânia, conseguia apresentar números positivos em todos os segmentos da vida nacional.
Passados oito meses da atual gestão, é perceptível que Lula III tem uma gestão marcada pela volta das deploráveis práticas do toma-lá-dá-cá, negociatas, uso da máquina pública, financiamento inescrupuloso da estrutura de comunicação que serve como correia de transmissão da estupidez ao modo preconizado por Lenin e bravatas que oscilam entre a bizarrice e a insanidade. Lula III é o verdadeiro retrato daquilo que Lula sempre foi: um sindicalista ávido pelo poder, um batedor de carteiras e com um discurso sob medida para retardados e imbecis.
A farsa do 8 de janeiro — muito mais para o Incêndio do Reichstag, em 27 de fevereiro de 1933 do que para a versão tupiniquim da suposta Invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 — teve a intenção de tirar os patriotas das ruas, impor uma onda de terror e de medo e garantir um começo de gestão sem oposição ao “Inocente de Taubaté”. O problema é que os autores do roteiro se equivocaram em vários momentos, acreditaram demais na esperteza e estão com as mãos lambuzadas de lama e a cada momento precisam criar uma nova narrativa para reinventar a realidade.
O grande problema é que o velho morubixaba não se deu conta de que os tempos tinham mudado, desde a sua chegada ao poder em eleições com urnas eletrônicas, um cenário econômico mundial favorável e sem oposição. Lula pode, naquele momento, exercer na plenitude o que aprendeu ao longo do tempo na máquina sindical. Ao ser recolocado na presidência em 2022, outra vez pelas urnas eletrônicas vergonhosamente sem impressão do voto e sem sua respectiva contagem pública, Lula não se deu conta de que o Brasil tinha mudado e os seus métodos de punguista sindical já não serviam mais. Além de um cenário econômico adverso, Lula e seus saqueadores pela primeira vez se depararam com uma oposição de Direita no Congresso Nacional e um sentimento junto a sociedade de que o resultado apontado pelas urnas eletrônicas não correspondeu ao desejo da imensa maioria do povo.
Mas ele não quis entender essa realidade e, em lugar de buscar desarmar o clima, ele preferiu aprofundar o enfrentamento defendendo a censura, a perseguição e até a eliminação dos adversários — agora apontados como inimigos da Nação. Transformado em palhaço no cenário internacional, ridicularizado por sua postura sabuja e servil ao ponto de ser chamado de “cadelinha do Xi”, dando pitaco na invasão da Ucrânia e se posicionando ao lado de um carniceiro como Putin, elogiando o legado dos 350 anos de escravidão e outras patacoadas, Lula é apenas um cadáver político adiado que, de tão fedorento, é vaiado por brasileiros.
A sucessão de escândalos de compra de votos, mordomias com a sua acompanhante em viagens internacionais e a perversa, para ela, comparação com a figura de Michelle Bolsonaro, faz com que o casal tenha virado sinônimo de rejeição popular.
A gota d`água pode estar se aproximando com a debacle da economia. E os lulo-petistas sabem que o chefe do Mensalão perdeu o bônus popular que tinha e logo-logo, acreditam, o povo vai perder o medo e até por necessidade, voltará às ruas. E vaticinam: se o gado voltar para às ruas, os jumentos terão que fugir. Porque sabem-se minoria…